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O poder corrompe o homem - R. Santana
 
Com os cabelos encanecidos, no começo do fim, deixei duma vez de militar em partido político A ou B, quando jovem, fui vereador itabunense pelo antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), mas, como o homem é um animal político, mesmo que a gente não mexa com a política, a política mexe com a gente.

Hoje, de bermuda e sandália, levo a minha vidinha insignificante sem preocupação maior, não me interessa se a Bolsa de Nova York subiu e a Bolsa de São Paulo baixou, se Thereza May saiu e Boris Johnson assumiu o governo da Inglaterra. Não me interessa ser ativista nem revolucionário, para mim, basta ser exemplo de conduta proba e honrar a todo custo, a palavra de Jesus Cristo: “Amarás o SENHOR, teu Deus, com todo o coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Temas o SENHOR com amor reverente, andando em seus caminhos, servindo ao Eterno, teu Deus, com todo o teu coração e ... amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Um dos maiores estadistas do mundo, Abraham Lincoln disse: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. O poder corrompe o homem não só nas coisas materiais, financeiras, mas corrompe as ideias, o caráter, a personalidade. O poder quando não é de bom senso, faz do homem sensato, um homem insensato, do democrata, um déspota.

Como cidadão comum, fico triste quando vejo um homem com a história de vida do ex-juiz Sérgio Moro, corromper suas ideias, jogar no lixo sua história jurídica, mentir para sociedade e conduta parcial (Vaza Jato) de magistrado em alguns processos da Lava Jato para construção dum projeto de poder, a ponto de não se dignar e ser chamado de ladrão por um parlamentar federal: “... E o senhor vai estar no livro de história como juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão... É o que o senhor é: um juiz que se corrompeu, um juiz ladrão”.

Não entendo como alguém renuncia à função de Estado, com carreira promissora, com credibilidade pública, com credibilidade jurídica e admiração de seus pares para servir à política partidária, servir a um político sem postura de estadista, que não tem zelo pelo ritual do cargo de presidente do país, que não valoriza as regras das instituições, que é tendencioso com parte da mídia falada e escrita. Não entendo como uma figura admirada e respeitada do Oiapoque ao Chuí, ele torna-se de uma hora para outra, uma figura caricata e burlesca, se somente se para se sustentar num cargo público de confiança por mais relevante que seja.

Hoje, eu não vejo Sérgio Moro, ministro da Justiça, com a aura e a alegria de antes. Vejo-o com cara de nojo, cada dia, perdendo o respeito público, não o vejo mais como “Senhor dos Anéis”, mas, usado pelo “Senhor dos Anéis” de modo desrespeitoso, autoritário e mal-educado. Não entendo como um homem de estatura moral e intelectual como o atual ministro da Justiça, é desautorizado, ofuscado e desrespeitado administrativamente pelo seu chefe Jair Bolsonaro, vejamos:

No começo do ano, Sérgio Moro nomeou a cientista política Ilana Szabó para Suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, logo depois de nomeada, num telefonema de Bolsonaro, fez Moro demiti-la;

Bolsonaro editou o “Decreto das Armas”, sem consultar-lhe, além de não considerar a posição de Moro que defende não armar a população, pois armar a população, conforme seu entendimento, não é uma medida de segurança pública;

Moro ficou à mercê do seu destino na Câmara dos Deputados com o seu “Projeto Anticrime”;

Moro estruturou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), com mais funcionários, material de expediente e condições de trabalho, visava o principal instrumento de trabalho para combate à corrupção do seu ministério. O COAF foi transferido para Economia pela Câmara dos Deputados com assentimento de Bolsonaro e a demissão de Roberto Leonel;

Agora, o imbróglio é a PF, Bolsonaro quer mudar o superintendente da polícia federal do Rio de Janeiro, além de mudar o diretor-geral da Polícia Federal, nomeado por Moro, Maurício Valeixo. Faz-se necessário esclarecer que a Polícia Federal é vinculada ao ministério da Justiça, que a ingerência nos assuntos internos da entidade, é do ministro da Justiça, no momento, o ex-juiz Sérgio Moro.

Caricato, do latim caricato, carregado nos defeitos, também, do ator cômico que interpreta caricaturas, por isto, entendo que o ministro Sérgio Moro está representando um papel caricaturesco para o povo brasileiro. Não sei se há objetivo subjacente atrás dessa conduta condescendente.

Por outro lado, sua conduta parcial, notadamente, na condução do processo de Lula, à frente 13ª Vara Cível Federal, torna-se cada vez mais convincente, mais decisivo, mais contundente, depois das publicações da Vaza Jato pelo The Intercepet Brasil. Os advogados de defesa do ex-presidente, Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Martins sustentam a parcialidade de Moro:

· Seus defensores foram tratados como mera formalidade;

· Provas relevantes foram indeferidas;

· Moro autorizou ilegalmente a interceptação por 23 dias do principal ramal do escritório dos advogados, com procuradores e policiais, as conversas e estratégias dos advogados de defesa;

· A participação e exposição em eventos com inimigos declarados de Lula, a exemplo de Lula e Aécio Neves;

· A predisposição em condenar o ex-presidente em conversar informais com Dallangnoll;

· Prêmios recebidos por entidades contrárias a Lula ou, aos seus projetos sociais, como o “Prêmio Faz diferença”, do jornal “O Globo”.

Não se deve considerar ao pé da letra as lições de Maquiavel de que “os meios justificam os fins”, aliás, os estudiosos dizem que o filósofo de “O Príncipe” não disse isso, porém, a essência de sua filosofia, é que o príncipe tem que trabalhar para o bem comum de seus súditos quaisquer que sejam os meios para atingir essa finalidade.

Enfim, se o ex-juiz construiu um projeto de poder usando meios não recomendáveis pelo ordenamento jurídico e republicano, decerto, passará para História não como perseguidor de corruptos e corruptores, porém, como magistrado que foi corrompido pelo encantamento do poder.



Autor: Rilvan Batista de Santana
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Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 24/08/2019
Alterado em 07/09/2019


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr