Textos


No túnel do tempo - R. Santana
Itabuna, 27 de outubro de 1997.

Amigo Francisco:

Estou usando deste expediente (carta), depois de algum tempo, para falar com você, por dois motivos: primeiro, pela inconveniência de abordar um problema particular num encontro público; segundo, não irei ao seu gabinete tomar o seu tempo para abordar um problema que não tem solução e não se exige, pois, o que vou lhe dizer não passa de um desabafo.
Você me procurou, xeroxou os meus documentos, entregou-os ao Sr. Secretário da Educação (conforme sua afirmação), com o objetivo de eu ser designado para direção de um colégio estadual. Não fui designado e não estou, aqui, lamentando o desfecho, lamento a falta de consideração, o descaso pelos sentimentos das pessoas amigas, que sempre estiveram empunhando a atual bandeira política, senão, integralmente (não havia parceria), porém, sempre com a mesma coerência há mais de 20 anos.
Depois de algum tempo, as pessoas ainda me perguntam pela malfadada direção com sutil gozação, porque alguém teve o mérito de espalhar a notícia para meio mundo, inclusive, contrariando o seu pedido de sigilo, enquanto isso, concomitantemente, eu era “fritado” por vocês sem nenhum gesto amigo justificando minha defenestração e deixando à mercê das aves agoureiras, que, quanto maior o fracasso, maior é a revoada.
Eu sei que você não é o responsável direto por essas designações, todavia, pela sua intercessão, muitos foram nomeados para direção de importantes colégios de Itabuna (não irei citá-los por questão ética, mas a maioria de suas indicações nunca votou em Fernando ou em ACM), embasados, somente, no seu atual prestígio político e na sua vontade de prestigiá-los e, alguns deles não possuem a minha experiência profissional (desculpe-me a imodéstia), que o seu velho amigo adquiriu ao longo desses anos.
Reconheço que você sempre foi compreensivo e prestativo comigo quando estava na direção do CEI (entretanto, nunca abusei, mesmo quando minha filha estava hospitalizada e no limiar da morte), mas, não o fiz com você de modo diferente, quando eu era o diretor do CEI, sempre atendi aos seus pedidos e cheguei a contemporizar algumas reclamações de seus alunos (o professor Mateus é testemunha) com o gerente da DIREC 07, daquela época. Nunca lhe falei, não estou alegando, estou justificando, apenas, o meu descontentamento e a minha decepção, não pelo cargo que não obtive (para mim, é de somenos importância dirigir uma escola pequena e sem recursos, seria mais encargo do que cargo), porém, pela maneira que fui alijado, sem nenhuma satisfação, sem nenhum apreço.
As pessoas mudam com o cargo, como camaleão muda de cor para não ser abocanhado pelos inimigos. Veja o exemplo da minha cunhada, ela solicitou sua remoção desde Edehilda, respaldada legalmente, pois além de ter duas décadas no estado da Bahia, com bons serviços prestados à educação, reside vizinha à escola, ocorreu o quê? Você não considerou nossa amizade e designou outra professora para o seu lugar com o pretexto que a professora foi transferida de outra localidade, ao invés de aproveitar a oportunidade, se desejasse, para recoloca-las, isto é, colocar a novata na escola da minha cunhada e designar Vandi para o seu lugar de direito – se é que prevalece o direito.
Enfim, espero continuar sendo seu amigo, afinal, os cargos e as contingências políticas são circunstanciais. A amizade e o respeito mútuo devem ser preservados. Nós estamos numa democracia, em pleno estado de direito, não exteriorizar o nosso descontentamento, é hipocrisia, é covardia, mesmo quando é para nossos amigos. A “bronca” e o destempero são necessários para manter a autoestima. Eu tenho o “pavio” curto, não gosto de falsidade ou alvo de chacota, é próprio do meu caráter, franco, às vezes, eu sou incompreendido pelos hipócritas, mas sempre com probidade e lealdade aos que sou grato.


Cordialmente,

Rilvan Batista de Santana

Nota Editorial:
Esta semana, remexendo os meus arquivos, encontrei esta correspondência de 21 anos atrás: é uma carta de desabafo que fiz ao professor Francisco Carlos, naquela época, gerente da DIREC 07, Itabuna (BA).
Hoje, seu valor é estimativo, um documento histórico de 21 anos, que se fosse expedido por uma pessoa desorganizada, seu destino seria o lixo, mas gosto de guardar todas os meus documentos expedidos e recebidos.
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 28/11/2018
Alterado em 28/11/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr