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Drogas - R. Santana

Drogas
R. Santana


Gosto de conversar com Tanaguchi. Não sei onde ele reside, acho que para as bandas do Pontalzinho. Não sei se ele tem filhos, mulher, netos, sogra, sogro... a única coisa que sei é que ele é nissei e aposentado do Ministério da Agricultura. Acho que se xeretasse mais seu lado pessoal, ele se recolheria como ostra, pois japonês ou filho de japoneses, não é de muita intimidade, os orientais são cismados por natureza. Mas quando nos encontramos, saio menos ignorante, pois ele é um sábio.

Hoje, nosso bate-papo na praça Olinto Leone, foi sobre as drogas e seus malefícios. Claro, que não concluímos nenhum documento que irá nortear as autoridades governamentais do nosso país, mas assim como o beija-flor que com uma gota d`água quis apagar o incêndio da floresta, com o nosso pitaco e milhões de outros pitacos num futuro não muito distante o problema das drogas seja solucionado, que este mal não mais faça chorar tantas mães e tantos pais, aqui, ali e acolá. Por isto, vou usar do peso literário para tornar verdade as nossas ideias sobre o consumo das drogas e o narcotráfico:

-Tudo bem, Tanaguchi?

-Se a Bélgica não desclassificasse a Seleção, tudo iria bem!

-Jogo é jogo, não?

-Sim!

-Tanaguchi, a Copa do Mundo serviu para demonstrar que a Rússia, além de superpotência militar e de grande economia, seu povo é alegre e hospitaleiro. Parece que no país de Putin o controle do narcotráfico é absoluto. A preocupação do governo russo é com os terroristas políticos de alguns territórios que continuaram anexados à Rússia depois do esfacelamento da União Soviética, a exemplo da Criméia que é disputada com a Ucrânia. Lá não se viu aquele aparato militar que o Brasil instalou na Copa de 2014 para conter às ações dos traficantes e os reles assaltantes do Rio de Janeiro e de outros estados. Não se sabe o tamanho do tráfico internacional da Rússia, sabe-se que lá, a tolerância da droga é zero!

-Ufa, meu amigo! Estou estupefato com seu discurso sobre a Rússia. Não entendi, seu raciocínio: trocou o resultado do jogo pela história política da Rússia, depois, abordou o narcotráfico, afinal, você quer falar sobre o quê?

-Meu velho, seu sentimento intuitivo é aguçadíssimo, gostaria de ter esse feeling, essa percepção imediata das coisas, você tem razão, quero mesmo é falar de droga ilícita. O aliciamento de jovens e menos jovens para o mundo do crime, assusta-me e, assusta-me mais a impotência dos governos para combater o uso da droga e seu comércio. O bandido do tráfico é uma erva daninha que se espalha sem solução de continuidade, quanto mais arrancado do chão, mais brota com força no campo, por isto, acho que o Século XXI será prejudicado na história da humanidade. Portanto, gostaria que analisássemos o assunto. Concorda?

-Sim, amigo! Porém, deixo-lhe claro que não existe um remédio que cure os males das drogas. O uso de entorpecentes, psicotrópicos, transcende ao tempo de Jesus Cristo. Os escravos trouxeram de sua terra africana, a maconha (Cannabis Sativa), e os curandeiros usaram-na muito em seus ritos religiosos. Os pigmeus africanos usaram como entorpecentes a droga conhecida como iboga. A folha de coca é um alucinógeno muito usado na Bolívia e no Peru, inclusive, como chá. Os maias, os incas, os guaranis, os xavantes e os cheyennes fizeram uso de chás alucinógenos. Os povos orientais e ocidentais consumiram por demais o haxixe e o ópio. Mais recente, novas drogas industrializadas surgiram no mercado, a exemplo da LSD, cocaína, ecstasy, crack... – aparteei-o:

-Meu amigo Tanaguchi, na prática, nada acrescenta a história das drogas, é demais conhecida, produtivo, seria se pudéssemos oferecer às futuras gerações, propostas nas políticas públicas do país para que a droga fosse erradicada da sociedade, que a nossa juventude não fosse atraída para o mal, que as famílias não fossem destruídas, enfim, que os nossos filhos e o filho do outro, fossem poupados dos ardis desses animais do narcotráfico, que mais vidas não fossem sacrificadas!

-Meu caro amigo, nossa intenção foi lhe demonstrar que substâncias alucinógenas são usadas muito antes de Cristo, conforme a religião, a cultura e os costumes sociais daquela época. Hoje, essas substâncias são industrializadas, transformadas e comercializadas, não são mais usadas no tratamento de doenças, mas para alienação da realidade e fuga existencial. Acho pretensão pensar em alguma proposta para sua erradicação. As substâncias psicóticas existirão sempre, nenhuma varinha de condão eliminará a droga num passe de mágica. Portanto, a droga é uma droga!

-Meu estimado guru, sei que é uma empreitada quase impossível, pois a droga mexe com o psiquismo das pessoas, muda o comportamento do indivíduo, também é nociva fisicamente, além de produzir toxicômanos aos milhões no mundo. Hoje, é uma preocupação de todos os poderes do nosso país, combater a produção e a distribuição de substâncias alucinógenas e punir com leis severas os narcotraficantes, todavia, torna-se cada vez mais difícil porque eles se homiziam e controlam comunidades com poder de fogo igual às polícias civis e militares!

-Meu caro, você terminou sua fala com o “xis” da questão: matar criminosos, prendê-los, apreender substâncias e fechar “laboratórios”, não irá resolver o problema da droga, acho que o caminho... – eu o interrompi:

-Qual a saída, senão, o uso da força?

-Meu amigo, “enxugar gelo” vale a pena?

-Não!

-Pois, as ações dos órgãos de segurança de combate ao narcotráfico têm se prestado a isso. Você me pediu uma opinião, vai lá: seguir o exemplo do Uruguai, Dinamarca, Colômbia, Portugal, Chile, Holanda, Bélgica, etc. Nesses países, a droga é vendida como se vende remédios de tarja preta nas farmácias, conforme a necessidade de cada um, inclusive, o governo propicia ao dependente químico, salas e praças para o uso da droga. Não existe uma política de repressão policial, de proibição, mas programas de terapia. Pouco a pouco a influência do narcotraficante se extinguirá, porém, só isso não basta, é necessária muita informação nos meios de comunicação. A mídia mostrar, diuturnamente, os malefícios do uso e da dependência dos alucinógenos, ou seja, fazer apologia às avessas do uso da droga.

Acho que o encontro com Tanaguchi foi proveitoso. Ele tem razão, as autoridades estão dando “murro em ponta de faca”, tudo que é proibido é desejado, talvez, o caminho seja a liberação da droga de forma controlada e a dependência química tratada como doença.


Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 11/07/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr