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Louro “Rico” - R. Santana

Louro “Rico”
R. Santana
Mesmo que eu seja indiciado pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato para dizer o nome completo (prenome, nome e sobrenome) de Louro “Rico”, não o farei não por má fé, mas por completa ignorância. Sei que ele não participou do propinoduto da Petrobrás, isto, eu juro por todos os santos canonizados pelo papa. Aliás, ele não sabe nem o que significa e tem raiva de quem sabe o que é: “petrolão”, delação premiada, tornozeleira eletrônica, “Japonês”, “pedaladas fiscais”, créditos suplementares, impeachment, ou, crime de responsabilidade. Louro “Rico” está acima ou abaixo dessas baboseiras de corrupção e picuinhas políticas, é uma alma ingênua e coração puro.
Se algum filho de Deus perguntar o que me fez abrir o notebook para escrever esta crônica, dir-lhe-ei que depois de ler alguns autores da literatura de autoestima, de autoajuda, a exemplo de João de Paula, Dale Carnegie, Lair Ribeiro, Roberto Shinyashiki, Lauro Trevisan e Içami Tiba, eu concluo que Louro “Rico” é melhor do que todos, porque eles são sabidos, teóricos, primeiro se ajudam (vendem milhares de livros e enchem a burra e, ajudam o próximo mais próximo), depois ajudam os incautos que acreditam no seu palavreado.
Louro “Rico” tem por divisa: “tristeza não paga dívida e do mundo nada se leva”, nunca o vi acabrunhado, se maldizendo, não fala de crise, sempre o encontro com a autoestima lá em cima: “...esta semana vou ferrar uns gados numa fazenda que comprei recente...” – não possui nem gado nem fazenda, ao invés de falar de miséria ou pobreza, ele brinca de riqueza, de bonança.
Caro leitor, não pense que o nosso personagem é alienado, não é, sente quando os preços da cesta básica sobem além da inflação, quando o talão de luz ou talão de água incomoda o bolso, quando os filhos e a mulher queixam-se de dificuldades da vida. Quando moço, foi pedreiro de profissão, depois de meia idade, tornou-se construtor independente de imóveis populares, portanto, um cidadão consciente de suas responsabilidades profissionais e sociais, não um sujeito alheio à realidade que o cerca. Porém, nada o deixa pra baixo, afirma: “tudo tem jeito, só não tem jeito pra morte”, assim, simplifica e suaviza a vida.

O homem sábio disse: “a palavra voa, a escrita fica e o exemplo permanece”. A oralidade não se sustenta por muito tempo, a pura expressão verbal não tem fé de ofício, ou seja, a credibilidade pode ser questionada, aí fica o dito pelo não dito, enquanto a escrita é perene, é documento, é o registro dos fatos, é o preto no branco, é a prova, porém, o mais importante é o exemplo que passa de geração pra geração. As boas atitudes são transmitidas de pais para filhos em toda sociedade. Os gestos de solidariedade, de amizade, de compartilhar, de abnegação e de amor ao próximo permanecem para sempre.
Hoje, Louro “Rico” está velhinho, mas não perdeu a aptidão de servir, sua capacidade de ser útil e seus conselhos de autoestima ainda são concorridos. Não é rico, mas repete a todo instante o adágio popular: “Ninguém é tão pobre, que não possa dar, nem tão rico, que não possa receber”, por isto, nunca diz “não” se pode dizer “sim” ao sujeito que lhe implora ajuda.
Quando as coisas não vão bem, refugio-me em sua casa para ouvir seus conselhos. Tenho muito gosto em vê-lo. Por maior que seja o problema do indivíduo, ele o faz pequeno. Ele não censura, não admoesta, nem desenvolve sentimento de culpa mesmo se alguém não teve uma conduta correta em alguma situação, quando muito, desperta no sujeito sua autocrítica.
Louro “Rico” não tem diploma de doutor, cursou a faculdade da vida, aprendeu com o mundo, mas é rico em sabedoria, em lição de vida. Não é demais repetir: dos autores literários de autoajuda que li, sem lê-lo no livro, ele é o melhor. Suas lições de vida valem mais do que um livro. Ele tomou como princípio o pensamento de Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes”.
O objetivo desta crônica é homenagear Louro “Rico” pela sua presença de espírito, pelo seu otimismo natural, pela energia positiva que ele passa, e, sustentar a tese de que a mente má direcionada é responsável pelo nosso insucesso, bem direcionada, é a fonte do nosso sucesso. O adágio popular: “não existe doença, mas doente”, ilustra o nosso pensamento, o mal em si não existe, o que existe é o nosso modo de ver as coisas.
Não existe sorte nem azar, tudo depende do nosso modo de agir, o homem é seu pensamento coadjuvado pela vontade de querer. Se o homem pensa positivo não há espaço para energia negativa, o poder do pensamento debela qualquer mal. Conta-se que certo homem pobre, focou o dinheiro como mudança de vida e escreveu em todas as paredes de seu quarto: “eu sou o dinheiro”, não muito tempo depois ficou multimilionário. O contista não fecha sua história se ele teve a mesma determinação na busca da felicidade, pois nenhum escravo é feliz, a realização material se completa se completo for o espírito.
Enfim, Louro “Rico” possui pensamento positivo, apesar da idade alquebrada, sua sabedoria e otimismo fazem dele uma referência recorrente para o enfrentamento do fardo da vida. Viver não é fácil, porém, mais difícil é se o homem não domina a arte de viver, se ele é um repositório de energia negativa, portanto, urge lembrarmos, prezado leitor, de sua máxima de vida: “tristeza não paga dívida e do mundo nada se leva”. A autoestima, certamente, é a chave da felicidade.



Autor: Rilvan Batista de Santana

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Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 16/07/2016


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr