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Carta para Sheila R. Santana

Carta para Sheila
R. Santana

Estimada amiga Sheila:

Recebi sua amável carta, afora os seus elogios (suspeitos por causa de nossa amizade) às minhas produções literárias, sua carta transmite sabedoria e bom senso, embora bom senso não seja atributo de todos os homens, todos os homens gabam-se possuir, conforme o filósofo francês René Descartes, por outro lado, enquanto se aprende o saber nos livros, a sabedoria consolida-se com os erros e os acertos da vida, com o tempo.
Querida amiga, diz a sabedoria popular que “cada pessoa, em seu canto, chora o seu pranto”. Não tenho sido feliz nas minhas amizades. Sou um homem probo, solidário, sensível, discreto, por isto, não consigo caminhar em terreno movediço, viciado, onde o egoísmo, a ingratidão, a infidelidade, a falsidade e os desvios de conduta chafurdam a nossa sociedade. Não sou puritano, mas não transgrido os meus princípios morais e intelectuais para obtenção de reconhecimento público passageiro.
Dentre muitos defeitos que tenho, o maior é acreditar no ser humano sem questionar, no ser humano despido de defeitos e repleto de qualidades, não pergunto se o sujeito é do bem ou do mal, ou, apenas quer usufruir da minha amizade. Se tivesse o brilho intelectual do ex-presidente Fernando Henrique, eu pediria aos meus conterrâneos que rasgassem as cartas abertas elogiosas que escrevi para certas pessoas que descobri depois que não valem os excrementos de um gato capado.
Querida amiga, eu já fui chamado de desonesto, achacador, chantagista, por gente que tinha como amiga. Sempre usei o caminho difícil da honestidade e da moralidade, jamais gozei de nada que não fosse suado e adquirido com dificuldade. Nunca recebi as coisas de mão beijada, sempre trabalhei para consegui-las.
Em algum trecho de sua carta, eu li: “... a literatura do Sul da Bahia é de qualidade sem Adonias e Jorge?” Sim! A nossa região do cacau é um celeiro de bons ficcionistas, escritores e poetas, todavia, alguns charlatões brotam como plantas daninhas na comunidade literária. Hoje, todo mundo se arvora em fazer poesia e escrever texto repetitivo de autoajuda e se autodenomina de escritor ou poeta. O verso livre contribuiu para que futilidade seja poesia e texto de autoajuda arte.
Sheila gostaria que me informasse as novidades da terra de Tobias Barreto, Gilberto Amado, Hermes Fontes, João Freire, Lourival Fontes, Ilma Fontes, dentre outros? Sei que aqui como lá, os picaretas, os pseudo-escritores, os pseudopoetas e os charlatões enchem as páginas de jornais, revistas, redes sociais, com falsas notícias literárias pessoais. Essa gente, querida Sheila, não possui autocrítica ou pensa que as pessoas não sabem discernir alhos de bugalhos, subliteratura de literatura.


Sem falsa modéstia, não me considero escritor, eu escrevo por hobby, ciente que a maioria do que produzo o destino será o lixo eletrônico ou a cesta de papel. Não possuo a força da criatividade nem o conhecimento dos nossos renomados escritores. Talvez, algum dia serei lembrado pela comunidade não como escritor, mas como um amante das artes.
Não tenho a obsessão de Euclides da Cunha que tinha medo não ser lembrado pela posteridade. Sua preocupação não era justificável, pois havia produzido a maior saga da história brasileira em “Os Sertões”. Não produzi nada de relevante até agora, nem produzirei por falta de talento e tempo, portanto, o meu esquecimento será consequência e não causa.
Enfim, querida amiga, o relógio de parede marca 3:30h, o dia está vindo, tenho necessidade de aproveitar o resto da noite e dormir mais um pouco, oportunamente, discutiremos o que faltou nesta missiva e o papo ficará em dia.

Do teu amigo, que te preza e estima,
Rilvan Batista de Santana


Itabuna, 19 de junho de 2015.
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 18/06/2015
Alterado em 19/06/2015


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr