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Ser ou não ser R. Santana

Ser ou não ser
R. Santana
Há três semanas estudo a Bíblia de maneira didática com Testemunhas de Jeová. Fui pego de surpresa por um grupo que passou aqui em casa pregando a palavra de Jeová. Deixei-lhes claro que sou católico de nascimento e de convicção, mas respeito todas as doutrinas religiosas e todas as seitas de umbanda ao candomblé. Não discuto religião, aprendi desde cedo que “religião, política e mulher, não se discute, se abraça”. Porém, ponho em dúvida alguns dogmas embasados em raciocínio lógico, talvez, por falta de conhecimento exegético mais profundo ou ignorância religiosa.
Eu sou da opinião que a vida não teria significado se o homem não fosse movido pela esperança de um mundo espiritual eterno. Todos os preceitos religiosos propõem ao homem em nome de Deus ou de Jesus Cristo, a remissão dos pecados, o aperfeiçoamento moral e espiritual, propõem acabar com a dor, o sofrimento, a velhice e a morte, através da ressurreição para os cristãos ou de sucessivas reencarnações para os espíritas, os caminhos são diferentes, mas o fim é o mesmo.
Grosso modo, a doutrina religiosa das Testemunhas de Jeová não promete o Céu, mas uma nova Terra sem dor, sem violência e sem sofrimento, depois que “Deus eliminar as pessoas más da Terra”. Os governos terrenos serão substituídos por um governo celestial e o homem bom será feliz para sempre. Jesus Cristo sentado à direita de Deus e reinará para sempre na Terra (Hebreus 10:12:13). Utópico não é meu amigo, minha amiga, não é? Fazer o quê?...
Nesses poucos dias de estudante bíblico com as Testemunhas de Jeová, ainda não os vi orar, nem falarem da santidade dos santos. Fundamentam-se em especial no Velho Testamento, o Novo Testamento serve para referendar o Velho Testamento.
Não doam nem recebem sangue e elas são dispensadas do serviço militar obrigatório, por isto, a doutrina das Testemunhas de Jeová, é diferente das demais doutrinas religiosas ocidentais.
Porém, é necessário que se diga que seus membros adquiriram, ao longo do tempo, irrepreensível conduta moral e inabalável fé em suas convicções religiosas. Não se registra na mídia falada ou escrita nenhum caso de desvio de conduta de seus anciãos (pastores), portanto, não se conhece em nossa sociedade melhor filosofia de vida para agradar a Deus.
Não obstante o homem moderno ser mais racional e menos emocional diante das adversidades da vida, cresce cada vez mais sua fé, não é à toa que as denominações religiosas se multiplicam e, na esteira desse crescimento, os exploradores da fé enriquecem manipulando mentes incautas e carentes de espiritualidade. Além disto, cresce cada vez mais a preocupação de alguns líderes religiosos com a construção de templos suntuosos como se o templo rico fosse condição sine qua non para aumentar a religiosidade de seus fiéis.
Hoje, não existe espaço para deístas, agnósticos ou ateus, ninguém consegue viver sem Deus e aquele que teima se afastar de Deus, é grande sua crise existencial. Alguns recalcitrantes da fé se refugiam na loucura ou suicidam-se porque a vida não lhes oferece sentido. A religião não é o ópio do povo como disse Karl Marx. A religião não entorpece o povo nem o deixa alienado, a religião satisfaz as necessidades do espírito, o homem que não tem religião é infeliz.
Os menos crentes acreditam que Deus deu as costas ao homem face à violência, à injustiça, à barbárie, à dor, ao sofrimento, às guerras, à velhice e à morte, contudo, são aspectos da vida humana desde que o mundo é mundo. O homem tem livre arbítrio em sua conduta para fazer o que lhe der na telha, os mais racionais podem alegar que os desastres naturais e os incidentes que destroem vidas inocentes não são do desejo do homem, raciocínio justificável...
No meu ensaio filosófico - religioso: “O homem nasce para ser feliz”, apresento a tese: “O mundo das possibilidades”, numa tentativa teórica de explicar a “ausência” de Deus no mundo sem argumentos deístas. Nós somos nossas circunstâncias, não existe destino pré-determinado, existe, sim, um mundo de possibilidades necessárias, contingenciais e reais.
Enfim, o homem jamais se desvencilhará de sua condição dialética de ser ou não ser - "To be, or not to be, that is the question” shakespeariano -, e assume sua condição espiritual, ou, vive e morre na condição animal.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 23/08/2014
Alterado em 24/08/2014


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr