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Itabuna, a princesinha do Sul da Bahia. R.Santana

Itabuna, a princesinha do Sul da Bahia.
R.Santana

Fui trazido para Itabuna por minha tia Judite, depois “mãe” Judite, no meado do século passado, em tenra idade, ainda vestindo fralda. Claro que não guardo na mente imagens e fatos daquela época, mas lembro-me de muita coisa quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade.
Minha tia e o marido moravam no bairro São Caetano, aliás, “Fuminho” naquela época, é que dois amigos do alheio roubaram umas bolas de fumo na cidade e esconderam o produto do roubo no outro lado do rio no pequeno povoado que se formava que viria ser o São Caetano. O subdelegado de calça curta prendeu os marginais, mas o apelido “Fuminho” permaneceu por muito tempo até se firmar como bairro São Caetano.
O nome “São Caetano”, diz o povo que foi uma homenagem ao pioneiro das terras que se chamava José Batista Caetano, ou, uma trepadeira, uma herbácea que dá melão e chamada de São Caetano. O terreno produzia São Caetano em profusão mais que erva daninha. Não conheci José Batista Caetano, o fundador do bairro, conheci os seus filhos, Peó e Zezinho, dois negros cordatos, de coração grande, porém, sem instrução, depois de prolongado litígio, eles perderam essas terras para Dr. Durval Guedes de Pinho, filho de um famoso coronel caxixeiro das terras produtoras de cacau.
Itabuna, daquele tempo distante, não passava de uma cidadezinha rodeada de fazendas de cacau por todos os lados. Suas ruas principais eram as ruas: J.J. Seabra e 7 de Setembro. Contavam-se os bairros nos dedos das mãos. O centro da cidade limitava-se à Praça Adami, Rufo Galvão, Paulino Vieira, Adolfo Leite, Rui Barbosa e Duque de Caxias, Rua do Zinco e Avenida Garcia, não existia a Avenida Cinquentenário nos moldes de hoje.
A feira-livre era o centro comercial da cidade, vendia-se de tudo, a feira-livre só perdia como atrativo com a chegada do trem, pois quem não queria ver a chegada e a partida do trem apitando e bufando vapor? Ninguém.
A principal festa cívica da cidade não era o seu dia, mas o dia 7 de Setembro. As escolas saiam do campo da desportiva e marchavam pelas principais avenidas da cidade sob os olhares das autoridades, o controle e disciplina dos professores e a galhardia e a elegância da meninada.
Havia uma disputa não declarada qual a escola de melhor banda, de melhor coreografia, de melhores halteres, melhor balística, ou, de melhor ginástica rítmica. A “Escola Sagrado Coração de Jesus”, no Banco Raso, da professora Nair Assis Menezes (90 anos de idade e lúcida), sempre se destacava entre as primeiras em quase todas as atividades escolares.
Os principais veículos de comunicação eram: o “Intransigente”, o “Diário de Itabuna”, a “Rádio Clube”, a “Rádio de Difusora” e por fim a “Rádio Jornal”, não havia televisão, nem computador nem Internet. Porém, a comunidade era tão bem informada quanto hoje. As emissoras de rádio transmitiam de júri a futebol, além de programas de calouro e jornal falado com o tempo, além das emissoras de AM, surgiram as emissoras de FM.
O rio Cachoeira era orgulho da comunidade, muitas famílias se sustentavam com os peixes tirados de suas águas limpas. O rio também era usado por banhistas e canoeiros. O rio Cachoeira atual é um grande vaso sanitário, onde os peixes morrem por falta de oxigênio e pela poluição e os governos municipais não tomam providências. Hoje, a comunidade não tem mais orgulho de tê-lo e os poetas choram a cachoeira nos seus versos que não desce mais, a cachoeira corrente não corre, borbulha...
Se os ponteiros do relógio do tempo girassem para trás e Itabuna voltasse ser a cidadezinha quase bucólica em que o cidadão batia papo no passeio de sua casa nas noites de verão e os namorados de mãos entrelaçadas passeavam pelas ruas nas noites de Lua cheia e as casas não tivessem grades e o rio Cachoeira tivesse vida com o progresso atual, não seria uma maravilha!? O progresso chegou bem-vindo, não se pode queixar do progresso, porém, queixa-se dos males que acompanham o progresso, queixa-se da qualidade de vida que se perdeu.
Não sou itabunense de nascimento nem de título, mas amo Itabuna, nesta cidade, eu quero me deitar para sempre.


Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 26/07/2014


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr