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Carta para Eglê Santos Machado (II)

Carta para Eglê Santos Machado (II)
R. Santana
Estimada poetisa:

Quando em vez, eu sinto necessidade de jogar conversa fora com alguém que conhece prosa e poesia ou faz prosa e poesia, segundo o nosso poeta Wagner Albertson, a senhora é a nossa “Rainha das Letras”, não que a nossa terra não seja pródiga em escritores e poetas, mas a única poetisa de nossa região que é: pesquisadora, trovadoresca, acadêmica e poetisa clássica, além de divulgar a nossa literatura tupiniquim para todo país através do seu site Itabuna Centenária (RSIC), coadjuvado pelo Saber-Literário, uma ação cultural que, certamente, terá o reconhecimento da comunidade pelo seu significado.
Não me considero poeta nem escritor nem mesmo “arremedo de escritor”, talvez, um viciado leitor de boa prosa e bom verso quando o ócio é maior que a faina, portanto, sinto-me livre para meter o bedelho, aqui, ali e acolá sem preocupação crítica, linguística e filológica, mas como um amador das artes e da literatura. Certo, apenas, que a poesia é a expressão maior do pensamento e a prosa é a expressão menor do pensamento, pois enquanto a primeira, é analítica e sintética; o segundo gênero, é discursivo e prolixo.
Poetisa amiga, no início deste ano, eu fui a Salvador em missão familiar, mas quando o tempo me foi conveniente, dei uma circulada nos seus principais shoppings. O shopping é um mundo encantado, é a sofisticação da feira-livre dos novos tempos, vende-se tudo, desde o alimento e vestuário até o apartamento com carro de último modelo na garagem. Porém, amiga, quando eu vou a um shopping, não sacio minha gulodice na praça da alimentação, mas sacio o meu interesse por livro. Ultimamente, gosto de ler as biografias dos grandes homens do passado e do presente, no passado não existe fonte maior do que Plutarco. Nessa breve estada na capital baiana, tive a curiosidade de bisbilhotar a nossa literatura tupiniquim, exceto Jorge Amado e Adonias Filho, não encontrei outros escritores da região do cacau, nenhum título dos nossos homens das letras.
Não pense minha amiga que sou do time “quanto pior, melhor”, não, ficaria feliz se tivesse encontrado em nossa capital, pelo menos, as nossas ideias em forma de verso e prosa nas vitrines das livrarias de Salvador, ou quiçá, nas vitrines das livrarias de todo o país, mas pareceu-me, en passant, que ainda não temos fôlego ou não temos marketing suficiente para exportar as nossas produções literárias, por isto, lamentei... Não sei como alguém, daqui, atreve-se gabar que tem livros traduzidos na Alemanha, na França, na Itália, na Espanha, e, suas obras não chegam nem na capital do seu estado.
Nossa obra literária não é menor, é que ainda não dispomos de estrutura de marketing ou apoio financeiro necessário para vê-la publicada, aqui, ali e alhures, se não houvesse a internet e a informática, essas obras jamais seriam conhecidas fora do nosso contexto social.
Nós somos ricos em talentos literários, afora Jorge Amado e Adonias Filho, nomes como Clodomir Xavier, Walker Luna, Helena Borborema, Manoel Fogueira, Dantinhas, Valdelice Pinheiro, Gil Nunesmaia, Firmino Rocha, Minelvino, Adelindo Kfoury, José Bastos e Telmo Padilha honram o planeta letras do cacau. Firmino Rocha, por exemplo, tem seu poema “Deram um fuzil ao menino”, inscrito no Portal da ONU.
Querida amiga, eu não me atrevi registrar os talentos vivos, não por lapso de memória, negligência ou despeito, mas pelo fato da quantidade de poetas e escritores de indiscutível qualidade literária. Os nossos romances, além de refletirem a saga do cacau, os seus personagens refletem as emoções e os valores morais universais. As nossas poesias e os nossos poemas são versos de paixão, de amor, de vaidade, de orgulho, de ódio, de traição, de fidelidade, de egoísmo, de coragem, de covardia, de ousadia, mas encerram, também, mensagens de autoestima, de consciência ecológica, de felicidade e de paz.
Enfim, grande poetisa, esta carta aberta tem o objetivo de alimentar nossa amizade poética, mas o objetivo maior será despertar o interesse de autoridades e entidades públicas responsáveis pela nossa cultura para criação de projetos e políticas públicas de incremento e apoio aos nossos artistas e aos nossos escritores e poetas do verso e da prosa. Os nossos construtores da palavra, os nossos construtores do pensamento contemporâneo, devem alçar voos mais alto e não ficarem circunscritos a uma cultura bairrista e regionalista.

Com apreço e amizade,
Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 09. 02.2014
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 08/02/2014
Alterado em 11/02/2014


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr