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O que é filosofia?

O que é filosofia?
R. Santana


Não sei. O saudoso professor Flávio Simões dizia que filosofia: “... é procurar um gato preto num quarto escuro e o gato preto não se encontra lá”. Claro que não passava de bazófia do professor, de brincadeira, uma maneira espirituosa de Flávio Simões definir o que não se define. Um dos primeiros impactos do iniciante de filosofia é não encontrar resposta pronta na busca do conhecimento. As ideias positivas não têm lugar na filosofia. Sócrates, com sua maiêutica, foi o pensador que deu rumo e método às discussões filosóficas.
O significado etimológico da palavra é de origem grega: “Philo” e “Sophia”, que é “amor à sabedoria”. O objeto primeiro da filosofia é o estudo do ser, causa primeira, princípio e fim em si mesmo, mas o estudo da natureza (os pré-socráticos), da Ética, da Lógica, da Sociologia, da Gnosiologia, da História, da Antropologia, “faz parte”, como diria o big brother Bambam, encimada pelas experiências do pensamento, do raciocínio lógico, da análise e da síntese.
Caro leitor, no início dos anos 70, quando comecei estudar filosofia, ocorreu um episódio que jamais esquecerei: egresso do curso “científico”, aluno esforçado, mas sem brilho, acostumado com matérias menos abstratas e mais objetivas, eu obtive aprendizagem insuficiente na primeira avaliação de Gnosiologia da professora Helena dos Anjos (este nome de gnosiologia é difícil de pronunciar, parece estrambótico, mas não é nada mais, nem nada menos, do que a teoria sistematizada do conhecimento), fui às lágrimas, pois havia estudado dias a fio o conhecimento na visão de pensadores gênios como Aristóteles, Locke, Hume, Kant, etc., etc.
Porém, fazer filosofia não é bicho de sete cabeças, é refletir a realidade do dia a dia sem a preocupação dos seus mistérios. Que importa saber quem veio primeiro se o ovo ou a galinha, se essência ou existência, se descendemos de Adão e Eva ou somos primos do macaco de Darwin e se o fim do homem é a morte, são discussões estéreis!...
O filósofo não é um ser alienado da realidade que vive em perene contemplação, mas um homem que se distingue por aprofundar seu pensamento na sociedade e nas coisas do mundo. Os estereótipos construídos ao longo do tempo de filósofo andando nas nuvens ou de comportamentos excêntricos não se sustentam nos dias atuais. Hoje, fazer filosofia é buscar solução existencial, é compromisso moral e intelectual com o outro, sem necessariamente, renunciar às questões metafísicas.
Por isso, é difícil definir filosofia face sua abrangência intelectual, o seu objeto de estudo é a reflexão do conhecimento e o conhecimento por si não é estanque é de natureza infinita, didaticamente, ela foi definida por “amor à sabedoria”, pois é o amor ao saber que faz o homem filósofo. Certas discussões filosóficas como a existência de Deus, de espírito, de alma, o que é vida e seu significado, se a morte é o fim em si mesmo ou a se a morte é, apenas, outro estado de matéria, são discussões inúteis se não forem respaldadas pela fé e pela ciência.
Parodiando Aristóteles, o homem é um animal político e um filósofo, o homem consciente faz digressão da existência e do mundo todo tempo. Se ele não faz política partidária, faz política na família, na escola, no trabalho, no lazer, então, é envolvido por políticas públicas, do mesmo modo, o homem é um ser que pensa, sofre, se angustia, gosta, ama e persegue a felicidade.
Portanto, não é necessário saber o que significa filosofia, é necessário viver filosofia, distinguir o bem e o mal, desejar para o outro o que deseja para si, não corromper e não se deixar corromper, ser solidário com o sofrimento do próximo, sublimar o defeito do amigo e mais tolerante com o inimigo, agradecer a Deus pelo dom da vida, ter tentado mais e aprender com o que não deu certo, não fazer do conhecimento uma obsessão, não desperdiçar a vida com elucubrações fúteis, viver como se cada dia fosse o último na prática das boas coisas.
Filosofar é que mantém o homem vivo. O homem é o único animal que medita, que raciocina e que é capaz de matutar pensamentos e ações. Sócrates discutia filosofia com jovens, sofistas, soldados e gente do povo de maneira simples e descomplicada. Platão enquanto passeava pelos jardins de sua academia, refletia com os seus discípulos os temas que açambarcavam o conhecimento daquela época.
Enfim, filosofar é a arte de suavizar os problemas existenciais do homem sem negligência dos valores morais e estéticos, melhor do que definir filosofia é conduzir a vida na busca da verdade e do amor. O homem nasceu pra ser feliz na simplicidade, porém, se a vaidade, o egoísmo, o orgulho e a inveja prevalecem nele, decerto, ele contraria os desígnios de Deus e será infeliz sempre.

Autor: Rilvan Batista de Santana

Itabuna, 15 de janeiro de 2013
 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 16/01/2013


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr