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A face obscura do homem - Mais um Andrada (capítulo 11)

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Mais um Andrada

Quando ele soube do ocorrido, o rebento já tinha pulado da barriga de Lia e já estava embrulhadinho em finos panos no seu berço laqueado (última moda) ou aconchegado nos braços da mãe, avós, tios e vizinhos. Todos queriam abraçar o pequerrucho Pedro, logo, chamado de “Pedrinho”, não faltavam bem-querer e paparicação...
José Maria torcia para que nascesse menina, contrariando a regra, Lia desejava um menino, ambos tinham argumentos convincentes: ele alegava que tinha uma filha e dois filhos, portanto, mais uma menina, teria dois casais, além disto, ele justificava que a mulher é mais amorosa com os pais e o filho homem é menos amoroso, mais machão e menos família; Lia, tinha medo que a filha se casasse com um troglodita e viesse sofrer, então, fosse puta e sofresse muito mais.
Naquela noite, a noite que Pedrinho veio ao mundo, José Maria estava numa das fazendas. Ele não esperava que Lia desembuchasse naquele mês, menos ainda, naquela semana, menos ainda, naquela noite, mas pelo “sim” ou pelo “não”, deixou “Mãe Otaciana” de sobreaviso. Não houve dificuldade no parto, a dificuldade foi o irmão de Lia acordar a parteira no meio da noite. A simpática velhinha, sem delongas, vestiu um casaco de frio, calçou um sapato, protegeu a cabeça com um xale e com passsinhos miúdos, instantes depois, ela já puxava o moleque para luz com dedicação e perícia.
Criança não parece com ninguém, criança parece com criança, mas Pedrinho não negava o pai. Ele herdara alguns traços inconfundíveis, a exemplo dos olhos esverdeados, o nariz e os dedos compridos das mãos, afora uma pinta preta na parte interna da coxa esquerda. José Maria brincava: “filho de puta, tira a mãe da culpa”. Naquela época não havia exame de DNA e se houvesse não seria necessário, o moleque era cagado e cuspido o pai.
O caixa do Sport Bar, naqueles dias, foi reforçado. O advogado saía do escritório no final da tarde e ia comemorar o nascimento de Pedrinho. Não bebia muito, o seu prazer era reunir os amigos, as prostitutas, dançar e falar da criança de dias como se tivesse anos.
Ele estava feliz, curtia momentos de felicidade, pois tinha o amor de Talita, de Samuel, de Júnior e de Lia. Lia que amava Pedro e ele que amava a ambos
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 23/09/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr