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A face obscura do homem - Bangalô (Capítulo 5)

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Bangalô


Helvécia tinha a experiência da idade, como uma pitonisa predizia com acerto o futuro de suas “meninas” e não foi diferente com Maria José: “minha filha, se o doutor gostar de você e montar casa, acabou tempo ruim”, em menos de 6 meses, Dr. José Maria montou casa na Avenida Garcia, um reduto de prostituição que se findava e pouco e pouco era substituído por famílias de classe média e o bangalô de Maria José acelerou essa mudança pelo luxo que ostentava e a valorização que deu ao trecho.
Diferente da esposa, introspectiva, sem muita conversa, “tem um rei na barriga” para alguns, Maria José era dada à amizade, pouco tempo depois, conquistou a amizade das famílias, principalmente, das moças de sua idade que não lhe chamavam de Maria José, mas de “Lia”, o doutor José Maria adorou: “Maria José é nome de velha, Lia é suave”, além delas pouco se lixarem se Lia era a esposa ou a amante, importava ser gente boa, gente da gente.
Depois de um mês de instalada no bangalô, Lia, com jeito e muito cafuné, pediu ao amante que trouxesse para Itabuna, os pais e os irmãos, o advogado resistiu no início, alegou quebra de privacidade, mas foi se rendendo aos argumentos de Lia, ela justificou que junto da família, em particular, os seus velhos pais, ficaria mais sossegada, que o amante não se preocupasse com o aumento de despesa, os seus irmãos eram trabalhadores, logo, cada um procuraria o seu destino, que não haveria quebra de privacidade, a casa era grande, que os velhos ficariam hospedados nos quartos dos fundos.
Não demorou muito tempo, dona Clô tomou conhecimento da moça, não tossiu nem mugiu, não comentou nada com o marido, talvez, tenha confessado ao padre Apolinário, a traição do marido, era egoísta demais para comunicar ao mundo suas fraquezas, também, não seria ouvida, a maioria das mulheres de sua classe passava pelos mesmos dissabores, não se conhecia homem de dinheiro ou coronel do cacau que não mijasse fora do caco...
Naquela época, era costume a mulher pagar com a vida a fraqueza da carne com o amém da sociedade e a tolerância da lei, enquanto a infidelidade masculina era prova de virilidade e machismo.
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 17/09/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr