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O calcanhar de Aquiles da educação

O calcanhar de Aquiles da educação
R. Santana

Crítica boa é aquela que constrói. A crítica pelo prazer de criticar e a crítica tendenciosa não ajudam pessoas, menos ainda, quando se critica certos segmentos profissionais intocáveis e algumas instituições públicas, entretanto, a crítica construtiva, a boa crítica embasada em fatos, isenta, além de indicar erros, equívocos, aponta a boa direção e novos caminhos.
É temerário afirmar, mas o professor é o calcanhar de Aquiles da nossa educação, sem isenção das responsabilidades da família, da sociedade e do estado no processo de aprendizagem e educacional do educando.
Faz-se necessário dizer que o professor, hoje, está no final da linha de produção, ele é mal remunerado, não goza do prestígio social e o respeito de outrora, salvo algumas honrosas exceções, o professor é despreparado e se lhe fosse exigido prova para o seu registro nos moldes da OAB, a maioria absoluta desses profissionais seria reprovada, por isto, ao longo do tempo, deixou-se estigmatizar-se por “coitado”, “injustiçado”, “hei de vencer mesmo sendo professor” etc., ao invés dele soerguer-se, qualificar-se sempre, não negligenciasse o conhecimento, assumisse o seu papal de agente motivador do processo educativo, fosse mais criativo, mais original, tivesse mais compromisso, deixasse de ser um mero reprodutor de idéias alheias e fosse mais profissional e mais educador.
O reflexo do despreparo do professor em todos os níveis da aprendizagem contamina todas as classes profissionais. Atualmente, não é exceção, erros médicos irreparáveis, engenheiros respondendo por homicídio culposo por imperícia profissional, advogados que não sabem peticionar, jornalistas que não sabem redigir, juízes “atropelando” leis, afora a grande massa de analfabetos funcionais egressos do curso fundamental e médio que as escolas públicas e privadas despejam todos os anos no mercado de trabalho, gerando óbices na mão de obra qualificada, atravancado o comércio, a indústria e inibindo o desenvolvimento do país e gerando a “indústria” dos cursinhos e as “fábricas” de diplomas.
Porém, não se pode imputar unicamente ao professor, o baixo nível intelectual e de escolaridade dos nossos trabalhadores, os governantes preocupados em melhorar o “ranking” do país em relação às nações em desenvolvimento e desenvolvidas, nos quesitos alfabetização, grau de escolaridade e tempo de escolaridade, utilizaram-se e ainda se utilizam de programas e instrumentos pedagógicos discutíveis (MOBRAL, Supletivos, Educação Integrada, Cursos de aceleração, Cursos à distância, Educação Continuada etc.), com o objetivo de suprir ciclos não concluídos de jovens e adultos, além do uso irresponsável de metodologias e ações pedagógicas de promoção do educando com graves déficits de aprendizagem.
A família é a principal responsável na formação cidadã e no processo de aprendizagem dos seus filhos nas faixas etárias da infância e adolescência, todavia, numa sociedade moderna em que a ausência diária dos pais, é uma regra e não uma exceção, a família pouco tem contribuído na formação moral e intelectual dos seus filhos, transferindo essas responsabilidades para escola.
O estado brasileiro e a sociedade elitizada levaram muito tempo para aprender a lição que “um país se faz com homens e livros”, nunca se preocuparam de maneira efetiva com a cultura e a educação do povo. O domínio intelectual, político e a exploração do trabalhador perduraram até Getúlio Vargas quando a educação tomou uma nova feição com o seu ministro Gustavo Capanema. A partir do Golpe de 1964, os militares preocupados com o desenvolvimento do país, perceberam a escassez de mão-de-obra qualificada, instituíram os cursos profissionalizantes através da Lei 5.692/71, ao molde educacional norte-americano, porém, cometeram o erro de não qualificar a priori, o professor, o principal formador dessa mão-de-obra – a improvisação foi a tônica...
A Informática, a Cibernética e o uso dos computadores em rede (Internet) não substituem o papel afetivo e humano do professor, a máquina jamais terá sentimento para compreender o choro duma criança, no entanto, o professor não pode prescindir, de agora em diante, dessa nova parafernália tecnológica em sua prática pedagógica e na vida pessoal sem prejuízo de informação e conhecimento.
As reivindicações históricas da classe docente de valorização salarial e melhores condições de trabalho são procedentes, os governantes e as escolas privadas têm sido sensíveis de acordo suas possibilidades orçamentárias, porém, a solução do problema educacional atual não se restringe, somente, ao aumento de remuneração, o professor ao longo do tempo vem negligenciando sua profissão...
Para a erradicação do analfabetismo funcional, dos problemas de aprendizagem, de gente não qualificada para o trabalho, a falta de gosto pelo conhecimento, pelo saber, de evasão escolar etc., será condição sine qua non, breve, que a sociedade e o governo criem mecanismos seletivos para o exercício e no exercício do magistério. A exemplo das empresas privadas, como prestação de serviço, se estabeleçam metas educacionais de qualidade e produtividade, evitando assim, que o magistério seja um “bico”, um repositório de profissionais frustrados, despreparados, mercenários, não vocacionados, que não tiveram facilidades noutras profissões e encontram na prática pedagógica um meio fácil de sobreviver.
Não cabe, somente, ao professor, a tarefa de “empurrar” conhecimento na mente do indivíduo, orientá-lo, ensinar-lhe a aprender, cabe-lhe, também, o papel imprescindível de torná-lo melhor moralmente para vida social.
Alexandre, o Grande, definiu a importância do seu preceptor Aristóteles e o rei Felipe II quando disse: “Se um deu-me a vida; o outro me deu a arte de viver”. Educar não é só instruir ou transformar o sujeito num repositório de conhecimento, educar é um conjunto de ações morais e intelectuais no processo de formação dum indivíduo, portanto, o exercício do magistério deve ser para aqueles que reúnem essas aptidões.
Enfim, o objetivo deste artigo não é tecer crítica fácil a esse segmento profissional da educação, mas lhe chamar a atenção para as novas ferramentas de pesquisa e ensino e, chamar-lhe a atenção para uma nova maneira de pensar e de agir na construção do conhecimento. Hoje, com o avanço da comunicação e a democratização do conhecimento e a rapidez nas informações, é muito pouco ser professor!...


Autor: Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 14 de janeiro de 2011.

























 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 31/07/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr