Textos


Generosidade e solidariedade
R. Santana

Tenho um amigo que alimenta certa desconfiança quanto às ações de generosidade e de solidariedade, embora reconheça que esses sentimentos produzem sensações de bem estar e felicidade no homem que pratica, às vezes, a prática esconde interesses inconfessáveis, principalmente, quando a mídia é envolvida. Alguém pratica uma boa ação com o objetivo de ser reconhecido pela sociedade e não por simples altruísmo ou abnegação ao outro, é muito comum os políticos e os religiosos usarem falsas ações generosas e solidárias para conseguirem interesses escusos. As ações generosas e solidárias não precisam ser de grande monta, às vezes, um pequeno gesto encerra uma lição de vida. Quem não se sensibiliza com o gesto de alguém que pára o carro para um idoso atravessar a rua fora da faixa de pedestre? Ou, o garoto que deixa de comprar sua merenda para socorrer um necessitado? Então, alguém que recebe um elogio profissional de um colega mais experiente? São gestos simples, mas que expressam o sentimento altruísta do homem. O homem mesquinho e egoísta que não é afeito à generosidade e à solidariedade, não possui grandeza na alma, pensa que irá perder algo se sua conduta for voltada para o próximo e deixa de ter a satisfação da máxima: “...quem oferece flores, fica com as mãos perfumadas.” O incauto não goza desse sentimento agradável de felicidade que servir ao próximo oferece. Quem leu “Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria Rilke, endereçadas ao jovem Franz Xaver Kappus, um jovem que vacilava entre a literatura e a carreira militar, encontra ali um exemplo de generosidade: Rainer um escritor consagrado, no auge da maturidade produtiva, com sério problema de saúde, debruça-se sobre os versos de Kappus e o estimula encontrar o caminho da vocação e da criatividade. Em suas cartas-respostas, jamais critica as poesias de Kappus, se são boas ou ruins o leitor não sabe, ele recusa-se exprimir a mais leve censura gramatical ou critica o estilo, apenas, exorta-lhe que encontre o seu veio literário e sua criatividade. Para Rilke, poesia era a leitura da alma e das coisas ao seu redor, Deus estava em todos os lugares e pessoas, ele cultivava a ficção, mas não endeusava o abstrato... Há uma fábula do leão e do rato de Esopo, recontada por La Fontaine que define bem o que é generosidade solidariedade, muito embora a mensagem principal da fábula é respeitar os mais fracos, fracos de físico e espírito, porém, pode-se fazer outras leituras dessa estória. La Fontaine conta que um leão faminto passeava pela floresta em busca de alimento, de repente encontra um ratinho que facilmente é preso pela pata do rei da floresta, no momento que ia degustar o frágil animal, o leão foi vencido pelo argumento do arguto ratinho que seria um desperdício comê-lo, pois era pequenino e não ia matar-lhe a fome, o leão não foi estúpido e num gesto de generosidade solta o animalzinho certo que jamais seria recompensado, quis ser generoso... Algum tempo depois, o leão cai na rede de um caçador e fica aprisionado. O ratinho surge e solidariamente o socorre roendo a malha da rede e libertando o leão. A fábula dentre outros ensinamentos, encerra, também, lições de solidariedade e generosidade: o leão foi generoso no momento que não comeu o ratinho, poderia tê-lo feito sem considerar o tamanho do roedor e, o rato foi solidário com o felino quando lhe ajudou escapar do caçador. A generosidade e a solidariedade são ações do amor. O amor age através da solidariedade e da generosidade. A pessoa generosa e solidária é desprendida, pensa mais no próximo do que em si. Irmã Dulce e madre Tereza de Calcutá são exemplos emblemáticos de desprendimentos, de amor aos humildes, de doação, agiram em nome do amor, modificando pessoas e circunstâncias adversas. Um pensamento de madre Tereza de Calcutá encerra o amor que se deve empregar em suas ações: “Não sei ao certo como é o paraíso, mas sei que quando morrermos e chegar o tempo de Deus nos julgar, Ele não perguntará, quantas coisas boas você fez em sua vida? Antes, Ele perguntará quanto amor você colocou naquilo que fez?”, ou seja, as ações têm que ser feitas com amor, mas o amor se completa com a obra: “O amor sem obras é morto”. Enfim, sejamos generosos e solidários com amor...

Autor: Rilvan Batista de Santana Itabuna, 19 de dezembro de 2011.

Academia de Letras de Itabuna - ALITA
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 30/07/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr