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Cidade menina

Cidade menina
R. Santana



O dia 28 julho é uma data significativa para Itabuna, é o dia do seu aniversário de emancipação política desde os idos de 1910, este ano, Itabuna fez 101 anos. 101 anos de luta, de trabalho, de desenvolvimento, de prosperidade e de afirmação histórica, uma das principais cidades da Bahia. Uma referência cultural, terra de poetas, de trovadores, de escritores e artistas Uma cidade menina que pouco e pouco deixa para trás sua coirmã Ilhéus que um dia lhe teve mando administrativo e político. Hoje, é o comércio mais pujante e a economia mais promissora do Sul da Bahia.
Itabuna é uma cidade jovem, uma cidade menina de 101 anos... O quê
significa um século para uma cidade? Nada ou quase nada. E, diferente do homem, que vai se quebrantando e se definhando ao longo do tempo, a cidade cresce, se desenvolve, se remoça, e fica mais bonita ao longo dos anos, São Paulo, Paris, Roma, Londres e Nova York são exemplos de cidades muitas vezes centenárias e mais jovens e mais bonitas, cada dia.
Tabocas de Félix do Amor Divino ou Itabuna de Firmino Alves foi amoldada pelos braços fortes dos retirantes nordestinos, dos tropeiros, dos trabalhadores rurais, dos mascates, dos plantadores de cacau, dos vaqueiros, dos comerciários, dos comerciantes e dos burareiros, dos coronéis do cacau, também, forjada com o sangue de pequenos fazendeiros que não se rendiam às tramóias do caxixe.
É um equívoco alguém dizer que Itabuna não tem “identidade cultural”, não tem “história” nem “memória”, é negar Jorge Amado, Valdelice Pinheiro, Plínio de Almeida, Minelvino, Telmo Padilha, Helena Borborema, Walter Moreira, Firmino Rocha, Zélia Lessa, dentre outros. Afirmar que Itabuna não tem “identidade cultural” é negar a FICC, a Editus, a Litterarum, a TV Itabuna, o jornal AGORA, o Clube dos Poetas, as escolas de capoeira e as academias ALITA e AGRAL e o Centro Cultural Adonias Filho, onde se desenvolve dança de salão, dança de rua, ballet, jazz, modelo e manequim, pintura, fotografia, etc., etc.
Seria importante que esta terra respirasse cultura, tivesse educação de qualidade, um Centro de Convenção, alguns Mecenas patrocinando artistas, escritores e cientistas. Seria importante que Itabuna tivesse teatros, museus, salas de cinema, programas culturais em rádio e TVs, mas é recorrente e justo o argumento que esta terra é uma cidade menina, é uma princesinha que ainda não desabrochou e quando o seu tempo chegar, ela irá adquirir os mesmos status de civilização de cidades do Sul e Sudeste do país e quiçá os mesmos fumos civilizatórios do mundo.
É verdade que Itabuna tem políticos desonestos, empresários egoístas e mercenários, porém, é verdade que homens desonestos, criminosos, corruptos, malfazejos têm em todas as sociedades, desde que gente se entende por gente, todavia, é verdade que qualquer sociedade, também, abriga homens trabalhadores, corretos, de idoneidade ilibada, e, graças ao Criador, é maioria, senão, estaríamos perdidos...
Não se pode negar o valor dos bens intelectuais, espirituais e morais na formação de um povo e quão são necessários na definição do comportamento e no caráter do homem, porém, o homem é corpo e alma, matéria e espírito, ambos têm que ser alimentados, ou seja, o homem se alimenta de poesia, de prosa, de pintura, de fotografia, de dança, de filosofia, de religião e doutras expressões culturais, mas se alimenta, também, de pão, de leite, de café, de feijão, de arroz, de carne, de galinha, de peixe, portanto, o homem é um ser interativo, o escritor, por exemplo, é tão necessário quanto o padeiro, o peixeiro, o açougueiro, todos têm sua importância na vida comunitária.
Será que um governo só de filósofos como queria Platão, resolveria os problemas do povo? Não! Pois as coisas ficariam no mundo das idéias e a prática é condição sine qua non da vida. Se Jesus Cristo tivesse vivido, somente, em oração, não praticasse a cura, a multiplicação dos pães, a ressurreição de Lázaro, não teria construído sua igreja que já tem 2000 anos.
Às vezes, certas homenagens prestadas no dia da cidade, por políticos, entidades e indivíduos aos benfeitores comunitários ou pessoas de destaque em determinada atividade, não são justas, são ações bajuladoras, de caráter pessoal, elas não têm o reconhecimento da população, são puxa-sacos, são egos feridos, políticos e intelectuais vaidosos que usam de artifício político ou midiático para se promoverem através do outro que já é reconhecido pela sociedade, não são homenagens verdadeiras.


Autor: Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 02 de agosto de 2011.


 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 17/07/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr