Textos


Carta para o Frei José Raimundo

Itabuna, 05 de dezembro de 2009.


Para: Frei José Raimundo da Silva Oliveira
M. D. Pároco da Igreja Santa Rita de Cássia – São Caetano, Itabuna (BA).

Preclaro Frei José Raimundo:

Como de praxe, quero lhe parabenizar pelos seus 25 anos de sacerdócio com périplo em algumas cidades da Bahia, em particular Itabuna, atingindo o auge da missão na cidade de Aracaju, capital do meu querido estado de Sergipe, conforme sua declaração pública.
Acredito que, pela maturidade das idéias, pela força de caráter, pelo desprendimento material, por perseguir a injustiça, por advogar as boas causas sociais, por fazer uma pregação que o povo entende e comunga, Deus lhe premiará com mais 25 anos de bons serviços sacerdotais, aqui, ali e alhures!...
Se possuísse a eloquência de um Cícero, o pensamento de um Sêneca ou o domínio da palavra de um Rui Barbosa, eu usaria o púlpito de sua paróquia para lhe homenagear nesse dia, mas me falta a genialidade e o dom da oratória desses pensadores, resta-me o recurso da escrita para manifestar os meus encômios, os meus elogios ao egrégio reverendo à frente da nossa paróquia.
Sou um católico preguiçoso, não faço parte de grupo, não tenho vocação para evangelizar, tenho aversão à discussão religiosa, sou partidário do pensamento que “religião, política e mulher não se escolhe se abraça”, pois a imperfeição é apanágio do homem, por isto, não comungo com os meus irmãos de fé que lhe denigrem, que lhe caluniam, sorrateiramente, usando recursos anônimos vis, maculando e enxovalhando o seu trabalho administrativo e o seu ministério.
Não tenho autoridade religiosa nem conhecimento teológico para fazer juízo do seu ministério, do seu apostolado, mas sobra a mim e aos demais paroquianos de bom senso, o reconhecimento de sua capacidade administrativa e sua preocupação social. Não lhe faz jus pelo serviço prestado à comunidade ao longo desses anos, críticas maldosas e aleivosias infundadas, por paixões, fanatismo e interesses inconfessáveis.
Senti sua angústia quando no final da eucaristia de 27.12.2009, anunciou a data dos seus 25 anos sacerdotais e o desconforto a priori de uma pálida cerimônia, duma fraca recepção... É sabido que sua Ordem Religiosa dispensa o fausto, a suntuosidade e propugna pela humildade e pelo simples, mas nenhum mortal dispensa o afeto, o reconhecimento e a solidariedade moral, são combustíveis que renovam a vontade de caminhar e construir.
O senso de justiça moveu-me “escrevinhar” esta carta despretensiosa, sem presunção, para lhe dizer que existem opositores (uma ínfima minoria) inescrupulosos, maledicentes, mas existem amigos, paroquianos corretos, que lhe respeitam pelo seu trabalho, pelo seu apostolado e pela audácia das suas idéias políticas e sociais.
Alguém já disse: “...toda unanimidade é burra”, as críticas construtivas são necessárias para nortear o administrador, o líder, o evangelizador, o pastor, ninguém é dono da verdade, o nosso crescimento pessoal decorre da crítica do verdadeiro amigo, não do falso amigo, do bajulador, entretanto, é necessário discernimento, desprendimento, espírito desarmado, para não confundi-los.
O povo ninguém o satisfaz plenamente, Jesus Cristo viveu essa experiência quando disse: “Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim” (Marcos 7 : 6-7), lá adiante, São Paulo deixa claro a falta de merecimento do homem e sua imperfeição, ele é salvo pela misericórdia de Deus: "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).
Quais as queixas que tenho ouvido dos meus irmãos de fé? Queixas políticas e de relacionamento: “Frei Raimundo só fala de política na missa...” ou “O Frei é petista...” ou “Ele é intratável...”, “Ele é tendencioso.”, essas queixas podem ser verdadeiras na visão do queixoso ou podem ser uma meia verdade, uma face da verdade, considerando as circunstâncias e o momento. Para o grego Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”, isto é, o que é verdade pra Chico é mentira pra Mané...
Para Aristóteles (500 anos a.C.), “o homem é um animal político”, não necessariamente partidário, mas política no sentido de participação das ações comunitárias, na defesa do bem comum, no social. Não existe tribuna mais adequada para defender o oprimido, o marginalizado e as injustiças sociais do que a Igreja Católica - não obstante os seus erros históricos -, a igreja de Jesus Cristo. Portanto, falar de política misturada com homilia não é um pecado, é dar cumprimento às idéias do seu fundador que há 2000 anos pregou contra as injustiças sociais, promoveu a igualdade entre os homens, promoveu a solidariedade, condenou o pecado e não o pecador, portanto, falar de política na igreja é uma necessidade e um dever, a omissão é um mal...
Lembro-me de sua frase feliz, proferida numa missa de agradecimento pela eleição do atual prefeito, no desenrolar de sua prédica, ele teve que ouvir: “Não basta ser honesto tem que trabalhar com gente honesta”!... Portanto, a política não é um mal, mas um exercício de cidadania, a sublimação dos direitos humanos. O quê seria do povo brasileiro, nos anos da ditadura, se não houvesse a voz de Dom Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Aluísio Lorscheider? O nosso país não teria sido redemocratizado.
Não acredito que os bons sejam vencidos pelos ímpios, que o mal supere o bem e a maldade prevaleça, se no dia 6 de Janeiro do ano em curso, lhe faltar paroquianos para festejar suas bodas de casamento com a Igreja Católica, se a sua angústia e a sua decepção forem confirmadas, agradeça a Deus pela missão duradoura que Ele lhe confiou e permaneça firme em sua caminhada porque "Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos" (Provérbios 27:6), contente-se com sua consciência, pois: "BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores" (Salmos 1:1).
Acredito numa grande alegria dos seus paroquianos comemorarem no próximo dia 06, os seus 25 anos de sacerdócio. As más palavras são levadas pelo vento e o exemplo permanece, a sua dedicação com as coisas da nossa paróquia e o seu exemplo de vida jamais serão esquecidos.
Parabéns!!!

Cordialmente,


Rilvan Batista de Santana/família
 

















Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 14/07/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr