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Irmã Dulce, o Anjo Bom da Bahia.
Irmã Dulce, o Anjo Bom da Bahia.
R. Santana

     No próximo dia 26 de maio, deste ano de 2009, ela iria completar 95 anos se viva estivesse, mas se nos deixou não faz muito tempo e foi para junto de Deus, os seus feitos, suas obras, o seu exemplo de despojamento material, o seu exemplo de fé, suas ações de caridade, sua vida entregue aos marginalizados, aos pobres que não tinham voz nem vez permanecem e permanecerão perenes.
     Poucos a conhecem pelo nome de Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes que recebeu na pia batismal, porém, todos a conhecem por Irmã Dulce de doçura, delicadeza, afável, bondosa e meiga e mais ninguém, neste país continental, foi tão doce, tão dada e tão dedicada à causa dos necessitados.
     Moleque ainda, eu li um artigo na Reader`s Digest sobre a Irmã Dulce que me impressionou. Naquela época que não havia computador nem Internet, a revista que trazia as informações em texto condensado, do mundo científico, filosófico, personagens históricos, informações militares e textos lúdicos, era a revista Reader`s Digest. A Digest representava a revista Veja dos dias atuais. Hoje, a Reader`s Digest é lida somente por alguns aficionados do passado e alguns jovens intelectuais e militares das nossas Forças Armadas, porém, é sabido que a Reader`s      Digest é uma revista lida em mais de 70 países e vinte tantas línguas.
Nesse artigo, um importante diretor da GM internacional, relatou sua experiência com a Irmã Dulce quase que se desculpando, envergonhado, por não lhe ter atendido em suas reivindicações e quando visitou in loco os barracões improvisados da freira que aproveitava qualquer espaço que lhe era oferecido para colocar os seus pobres e os seus miseráveis, que ela os recolhia à calada da noite, nas calçadas, nos becos e nas ruas de Salvador, penitenciou-se com um “mea culpa” pública.
     O filho da terra do Tio Sam, ainda teceu em seu artigo na Digest, sua ilimitada admiração pela freirinha, raquítica e baixinha, uma pessoinha frágil, mas de indômita força interior, de vontade inquebrantável, que a despeito de todas as suas dificuldades físicas e materiais, entregava-se à caridade e ao amor dos seus semelhantes necessitados.
     O ilustre ianque discorreu que não obstante o estado precário das instalações que a Irmã Dulce utilizava para abrigar os meninos de rua, os jovens e os velhos, todos eram assistidos com banhos, roupas limpas e refeições diárias e muito amor.
     Tinha 13 aninhos quando a contragosto do Dr. Lopes Pontes, o seu pai, ela tentou entrar no Convento do Desterro mais foi recusada pela idade, mas desde essa época, Maria Rita se dedicava às práticas de caridade nas ruas de Salvador, assistindo aos doentes, aos velhos e aos jovens abandonados. Nessa idade, fervorosa na fé, rezava diuturnamente, ao contrário de Madre Tereza de Calcutá que pedia a Deus um sinal, Maria Rita, foi mais humilde, pediu a Santo Antônio, o seu santo de devoção, que lhe desse um sinal e o sinal lhe foi dado.
     Aos 18 anos de idade, depois que concluiu o curso de magistério, curso perseguido por todas as moças da classe média do seu tempo, ao invés de assumir uma escolinha, casar e ter filhos, ela entra na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, no Convento do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe e seis meses depois é freira, dois anos depois, faz sua Profissão de Fé e volta para Salvador e começa sua caminhada de caridade, de entrega e de amor.
     Foi a única religiosa no Brasil que o papa João Paulo II tomou a iniciativa de visitar quando esteve aqui pela sua dedicação aos filhos da pobreza e da miséria.
     A obra social da irmã Dulce é significativa, além do Hospital Santo Antônio, capacitado para atender mais de mil pacientes/dia, ela fundou o Centro Educacional Santo Antônio (CESA), que abriga mais de 500 crianças na faixa etária de 3 a 17 anos e o Círculo Operário da Bahia que uma escola profissionalizante e atividades recreativas e culturais.
     A Irmã Dulce nasceu no ano da I guerra Mundial, mais nova quatro anos do que Madre Tereza de Calcutá, da mesma estatura moral da religiosa albanesa, naturalizada indiana, a nossa Irmã Dulce ainda não teve o reconhecimento do mundo quanto à madre indiana. Madre Tereza em vida foi agraciada com o Nobel da Paz e o Templenton Prize.
     Agora, em janeiro de 2009, 17 anos depois de sua morte, é que o nosso Anjo baiano foi reconhecida pela Congregação da Causa dos Santos da Igreja Católica, como “Venerável”. Em abril, o papa Bento XVI, a reconheceu por decreto, suas “Virtudes Heróicas”, mas até ser beatificada e santa haverá uma longa caminhada, talvez, seja este o desejo da Irmã Dulce lá nos céus, ser reconhecida apenas como o “Anjo Bom da Bahia” e não “Santa Irmã Dulce”!...


Autor: Rilvan Batista de Santana – Academia de Letras da Bahia
Gênero: Crônica.
Membro da Academia de Letras da Bahia
Licença: Creative Commons 
 
 









 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 28/06/2012
Alterado em 13/10/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr