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Eu sou é macho

Eu sou é macho
R Santana

Ele abriu os olhos e procurou o relógio, eram 6: 00 h. Embora o quarto estivesse fechado, com cortinas vermelhas escuras cerradas, uma réstia invadia pouco e pouco o ambiente: o dia prometia muito sol e muito calor. Observou da cama, que era um quarto retangular, aconchegante, mobília nova e laqueada, teto espelhado, um abajur em cima de uma cômoda de quatro gavetas, guarda-roupa embutido, ar condicionado por controle remoto, TV 42 Tela Plana Plasma, aparelho de DVD e CD. No canto direito do quarto ficava o toalete e anexo o sanitário. Deu-se conta que estava num quarto de motel.
Ainda zonzo, bocejando, estirou-se na cama quanto pôde. Percebeu que ao seu lado dormia uma linda morena. Devagar, foi dobrando o edredom que a cobria, do rosto à cintura, deixando a descoberto dois voluptuosos e sensuais peitos, sem ela esboçar nenhuma reação.
Túlio Assunção Alvarez, jovem advogado de tradicional família soteropolitana, com casamento marcado para dois dias depois, tinha sido alvo da brincadeira de dois colegas do curso de direito, Marcos Sanches e Júlio Pedroso. Marcos e Júlio programaram com os demais amigos, uma festa de despedida de solteiro para Túlio, com a condição de lhe pregar uma peça e a boate “Arco Íris”, foi o lugar escolhido.
A boate “Arco Íris” tinha sido recém inaugurada em uma rua movimentada da capital baiana. Uma casa noturna de padrão internacional, com área de estacionamento, manobrista, segurança, salão de baile, bar, barman e um palco móvel, onde as meninas e os travestis deixavam os homens alucinados com suas danças eróticas e sensuais. Embora seja uma casa dirigida a uma clientela GLS, pelo seu alto padrão e a passagem de cantores brasileiros e internacionais, fizeram dela uma casa para todos gostos e idades.
Túlio não se conteve com a visão daqueles seios, daquela pele lisa e morena, daqueles cabelos pretos escorridos e daquela boca carnuda. Começou abraçá-la, beijá-la, pelo nariz, pela boca, descendo pelo umbigo e quando atingiu a região pubiana, deu um grito abafado e estupefato:
- Que... que... é... isso... que... é... isso !?
- Eh, eh, bem... isso é um peru! – Túlio avançou pra cima daquele desconhecido com vontade de esganá-lo. Estava atordoado, confuso, como tinha ido parar ali naquele motel com um homem? Deveria ter sido coisa daqueles safados! Iria matá-los...
- Saia daqui sua nojenta, antes que lhe quebre as fuças!...
- Agora eu sou nojenta não é? Mas ontem, você me chamava de seu macho, bicha enrustida!... – Túlio perdeu o controle, deu uma bofetada no estranho que ele caiu estatelado em cima da cama. Completou:
- Não me chame bicha enrustida, senão, eu lhe mato! – Foi como cutucar o cão com vara curta:
- Você é uma bicha enrustida mesmo, passou a noite dizendo que queria ser a minha menina e foi a minha menina!... Agora, vem com essa de machão? Estou acostumada com esses machões. Se me tocar novamente, vou colocar este motel abaixo e com ele sua reputação! – Túlio freou o ímpeto, não poderia deixar que aquilo acontecesse. Seria sua palavra contra aquele degenerado. Quem iria acreditar nele naquelas circunstâncias? E se o entrevero fosse parar na polícia? Seria o fim do seu noivado e adeus casamento. Para não se denunciar e ser vítima de chantagens e achaques daquele pervertido sexual e moral, depois:
- Estou lá preocupado com por... ra ... por... ra de reputação!... Saia daqui, senão, vou ligar para polícia e falar que você embebedou-me e roubou-me enquanto eu dormia. – Pareceu-lhe que tinha descoberto o calcanhar de Aquiles, o desconhecido arrumou-se de imediato, calçou os sapatos de salto alto e foi-se...
Túlio livre da indesejável companhia, pegou a toalha e dirigiu-se para o banheiro. Não sabia como as coisas tinham acontecido. Lembrava-se vagamente, que no dia anterior tinha ido com Marcos, Júlio, mais três amigos à boate. E, depois das tantas da noite e tantos goles de whisky, os amigos deixaram-no na companhia de uma linda mulher. Agora, uma pergunta vinha-lhe à cabeça: “será que essa mulher era o travesti?” Eles não perdiam por esperar, sua vingança seria em dobro. Mas, “será que eles sabiam? Poderiam ter sido enganados. Ela, ele, era uma mulher.”
Fez um bochecho, raspou a barba e... quando tirou a cueca... ela estava... manchada de sangue... no traseiro. A bicha não mentiu, o seu corpo o denunciava: ele tinha sido a menina e não o menino. E agora? Noivo ou Noiva? Menino ou Menina?
- Vá pra... eu sou é macho!!!

Autor: Rilvan Batista de Santana – Academia de Letras de Itabuna - ALITA
Gênero (conto)








 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 07/06/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr