Textos


Escrever é um ato solitário

Escrever é um ato solitário
R. Santana


O exercício da escrita é solitário e difícil, mais fácil é falar (a palavra voa, a escrita fica e o exemplo permanece), discursar, palavrear, tagarelar, jogar conversa fora, mas quando se deseja colocar no papel, palavras, conceitos e ideias, aí, a porca torce o rabo... Parodiando Thomas Edson, escrever não resulta só de inspiração, mas de transpiração, de persistência na elaboração e construção de um texto. No capítulo da curiosidade dos grandes escritores, a criatividade é uma manifestação divina, é o insight, todavia, a desenvoltura e o estilo são adquiridos através do trabalho e da experiência ao longo do tempo.
Quem rebusca as páginas das escolas literárias, irá encontrar escritores com passagem por mais de uma escola, a exemplo de Machado de Assis que teve um pé fincado no Romantismo por influência de José de Alencar, Bernardo Guimarães, Gonçalves de Magalhães, e, terminou os seus dias enterrado até o pescoço no Realismo e se vivesse mais tempo, teria, certamente, construído outros caminhos geniais, contudo, ele ainda influenciou os escritores como Bilac e Lima Barreto, expoentes do parnasianismo, no verso e na prosa.
Mas, essa evolução de estilo e de forma não representam demérito do escritor, poucos escritores na história literária, foram best seller no seu primeiro livro, às vezes, o escritor duma extensa obra, é reconhecido, apenas, em um ou dois livros, Franz Kafka, por exemplo, tem uma obra significativa, mas os seus livros: “O processo” e “A Metamorfose” que lhe deram notoriedade.
Numa entrevista televisiva recente, uma escritora (não me lembro de seu nome), queixou-se da dificuldade que os jovens têm de colocar no papel uma boa história, enquanto na linguagem oral e cênica, eles falam e desempenham com facilidade qualquer texto que lhes chega às mãos. Essa dificuldade, ela atribuía a falta de leitura, a linguagem corrida da Internet e a substituição da escrita pela imagem.
As escolas de escritores que se proliferam, ultimamente, ajudam na formação de um redator, mas o processo de criatividade do escritor é diferente, é inato, é vocação, é perseverança, é suor, é objetividade, é perseguição dum ideal. Não se faz um escritor, nasce um escritor com suas potencialidades, a experiência intelectual e o tempo definem sua genialidade.
Um jovem solicitou por e-mail a determinado escritor, as regras necessárias para elaboração de bons textos de prosa e poesia, grande foi o seu desapontamento com a resposta que se segue:
“... não tenho a receita do que tu me pedes, creio, também, que ninguém a possui com as exigências que tu me solicitas, pois, é fácil ensinar gramática e técnicas de redação na escola, porém, na escola não se ensina pensar, pouco se usa a imaginação e tornou-se pior com o advento da Internet, da informática, a garotada que antes estudava, hoje, faz de conta que pesquisa e aprende. Atualmente, as informações são mais democráticas e mais acessíveis, mas não ensinam refletir, pensar é um exercício de paciência que exige disciplina e desprendimento”.
Particularmente, acho o ato de escrever além de solitário, sofrido, pela preocupação correta da gramática e dos censores de plantão. Além de a língua ter suas regras e normas convencionais, qualquer que seja o idioma, ela não escapa às interpretações pessoais de acordo o entendimento do sujeito pelo fato dela ser viva e dinâmica. Quem leu as Réplicas e Tréplicas de Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro, encontra ali, exemplos gritantes, não de erros, mas de concepções e interpretações pessoais diferentes.
Porém, o escritor compulsivo, escrever é um vício, aquele que é impelido criar, pouco se lixa para essas firulas dos detentores do saber linguístico, pior do que escrever ruim, é não escrever, pior do que escrever sem a gramática, é não produzir, é não ter ideias criativas, aqui, vale o pensamento: “Quem não sabe ensina, quem sabe faz”.

Autor: Rilvan Batista de Santana (Publicado em Coletânea)


 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 28/05/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr